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O NASCIMENTO E OS AMBIENTES

O INÍCIO E O FIM DO ABSOLUTO

Cada nascimento carrega em si a morte. Essa não é uma frase de efeito, é uma verdade que pode ser identificada em cada experiência de chegada em um novo ambiente. Em cada novo ambiente no qual um corpo passa a existir, esse corpo passa a ser acompanhado, em si e fora de si, de um mundo potente e cheio de forças vivas. Simultaneamente, o corpo vive a presença de carga/pressão exercidas por essas forças. A carga/pressão sobre o corpo é, até então, uma carga nova para as condições desse corpo e pode ser uma experiência vivida desprovida de condições para assimilação de tal pressão. A presença da circulação dessas forças implica certa morte de uma forma e o nascimento de outra forma como possibilidade para seguir vivendo com vitalidade; vitalidade que só é possível com a garantia da circulação dessas forças vitais.

O que são essas forças vitais?

Exemplificando de modo objetivo, o diafragma, músculo respiratório, exerce pressão sobre os pulmões e cavidade abdominal; simultaneamente, as vísceras empurram a parede abdominal e assoalho pélvico; o pescoço, por meio do tecido conjuntivo, sustenta a carga exercida pela atividade do diafragma que exerce pressão sobre os pulmões. Os pulmões vivem constantemente uma pressão geradora de vida.

Podemos exemplificar de modo subjetivo também, quais são as forças que circulam no encontro, como a presença do olhar tão esperado de uma pessoa que chega até alguém gerando excitação, que é um aumento no fluxo de energia trazendo pressão sobre as pessoas. Pressão direta e indireta sobre a forma corporal.

São forças que são transmitidas entre as partes do mesmo corpo e entre as pessoas estabelecendo um jogo de forças constantes que pode favorecer o desenvolvimento e amadurecimento das pessoas.

Retornando a frase inicial, cada nascimento carrega em si a morte em busca da efetividade em seguir processando a vida. Nesse sentido, do nascimento que carrega a morte contrário ao nascimento que é o oposto da morte, a verdade complexa é o continente que acomoda as múltiplas formas que regem a vida-morte-vida vivida até a morte.

Vamos tomar como exemplo o nascimento de um bebê que, ao nascer, experimenta a morte do ambiente intrauterino e começa a vida no ambiente extrauterino. O corpo do bebê, ao nascer, recebe as forças que circulam pelo ambiente; esta, inicialmente, é exercida sobre um corpo que não tem fronteiras entre fora e dentro. Tudo é ele e ele é tudo! Percebida dessa forma, podemos antever a facilidade com que as experiências de um recém-nascido podem ser levadas ao extremo e vividas de modo sofrido pelo bebê.

O nascimento do bebê, acompanhado da potência de vida, é um acontecimento que carrega em si o início e o fim do absoluto! A experiência inicial de que ele é tudo e tudo é ele, vai obrigatoriamente passar por transformações que contemplam e expressam os ciclos vida-morte-vida. Ao longo da vida, o bebê deixa de ser bebê para ser menino, criança, jovem, jovem adulto, adulto, 3º adulto, idoso e, finalmente, eterniza-se na morte real. A realidade da mudança é constante; constante é a mudança que acompanha a vida a qual carrega a morte em si gerando mais vida, seja durante as experiências dos ciclos de vida, seja durante a contemplação dos ambientes que cercam essas experiências.

fonte: https://www.istockphoto.com/es/vector/macho-ciclo-de-vida-de-silueta-gm165749644-13992445

Diante disso, tristeza, alegria, raiva, fome, sono, os vários e inconstantes estados corporais que acompanham as experiências e a dinâmica do que está vivo, podem ser entendidos como orientações/forças de um corpo-ambiente em busca de processar mais vida em si. Para melhor compreender essa afirmação, será preciso pensar e viver baseando-se em um novo paradigma, o da complexidade das várias verdades coexistindo no mesmo ambiente. Essa realidade acomoda as diferenças e rege os encontros. Encontro entendido como o canal, a ponte por onde são transmitidas as forças de vida. A ponte para a passagem ora oferecida pelo outro do encontro, ora criada pelo passante ao encontrar a própria unidade.

Fundação Monet

A compreensão de que o canal que transporta a vida é o encontro entre as pessoas já é conhecida por muitos que acreditam e buscam o desenvolvimento e amadurecimento constantes. Porém, o encontro como canal de vida acontece mesmo quando há transmissão de forças passando pelo canal, seja entre as partes em si, a transmissão de forças que acontece entre as partes do mesmo corpo, seja pela transmissão de forças entre um corpo e outros corpos e entre um corpo e objetos fora de si, um tipo de transmissão de forças conhecida como influência.

Viver o encontro, assim entendido, não é contemplado pelo uso de uma palavra desprovida de experiências. O encontro acontece baseado em afetos, que são forças vivas que circulam e surpreendem. Se durante a proposta de encontro, as pessoas presentes no ambiente de convivência sustentam suas crenças e verdades únicas de modo rígido e julgador, a transmissão das forças que circulam nesse ambiente fica interrompida.

Fig. 03

Frente aos processos dinâmicos da vida, podemos reconhecer que encontro e desencontro são duas faces de um mesmo eixo e, nesse sentido, devemos compreender essa dinâmica que confere complexidade às experiências. Como ilustrado na figura 3, de modo fixo, podemos enxergar a figura de uma pessoa que pretende estar sempre certa e grande e, para a outra, resta estar sempre errada e pequena, instalando jogos de poder e desativando a circulação das forças vivas. Nesse caso, também um encontro carrega no seu interior o desencontro. O desencontro contido no encontro acontece, por exemplo, quando as forças se repetem, mais do mesmo, a mesma força pressionando a mesma área da vida, do corpo, machucando e deformando.

Bons encontros contêm os desencontros e, diferente da criança ou do infantil em cada um, o adulto tem alguma chance de ir e vir favorecendo a vida e mantendo o jogo de forças que move o amadurecimento.

Estamos refletindo que cada novo ambiente habitado, se baseando nas experiências dos encontros, é acompanhado de forças que circulam e podem ser canalizadas gerando mais vida. Pensando assim, nem todos ambientes são necessariamente bons para todos. Uma pessoa pode se nutrir melhor daquele ambiente e não de outro. Precisar conviver mais com aquela pessoa e menos com a outra. Desse modo, o ideal de felicidade absoluto não existe! Cada fase de vida encontra forças em ambientes e pessoas diferentes e isso não implica avaliar, de modo absoluto, com nota baixa/alta os lugares e as pessoas de que nos afastamos e nos aproximamos.

Cada ambiente novo, diante do encontro – circulação de forças, pontes e transmissão de forças - pode ser acompanhado de um nascimento e morte, carregando o início e o fim do absoluto diante do desenvolvimento e amadurecimento das pessoas presentes nos acontecimentos gerados nesses ambientes. O entendimento de que o constante é a mudança e a mudança é o constante acomoda aquilo que é eficiente e afetivo em nós, gerando e acomodando possibilidades e intenções. Intenção como uma orientação e possibilidade como a condição viva de um corpo. Precisamos promover mais encontros desse modo.

Vale uma reflexão!

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