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JOGO DE FORÇAS X JOGOS DE PODER

DETERMINADO CONFLITO PODE GERAR AMADURECIMENTO

Participando de debates no convívio social, profissional e nas mídias sociais, fica claro o hábito que as pessoas têm em polarizar suas afirmações e respostas frente aos assuntos conflitantes. O determinismo com que muitas pessoas declaram as suas opiniões, as crenças nas técnicas infalíveis, a presença constante das verdades absolutas e das soluções únicas nas quais todos, sem exceção, devem acomodar-se me levam ao desafio em compartilhar um modo de pensar e agir no qual caibam várias verdades coexistindo no mesmo ambiente.

A possibilidade de caber mais verdades frente ao diferente pode gerar um jogo de forças que estimula o amadurecimento de cada pessoa envolvida nos conflitos inerentes à vida humana.

Isso mesmo, ousei dizer que o conflito, ou melhor, determinado conflito pode gerar amadurecimento!

O conflito que favorece o amadurecimento é aquele no qual as pessoas presentes no acontecimento podem desafiar suas próprias posições, participando de um jogo de forças que desloca um pouco, cada um, da sua posição inicial.

Deslocar fica entendido como uma pequena alteração das ideias e ações geradoras do conflito e que tem, como ponto de partida, si mesmo. Partir de um deslocamento possível das próprias ações e narrativas na direção das novas ações e narrativas em si. Orientações próprias que se articulam e transitam entre mundos interno e externo, durante a interação.

A ideia de que a minha verdade é mais verdade que a do outro não deixa lugar para a multiplicidade de formas tão comum aos ambientes de convivência. E mais, se observamos as questões que envolvem dilemas internos, vamos reconhecer que existem conflitos, também, entre partes de uma mesma pessoa.

Um exemplo simples de conflito frequente é a presença de orientações distintas, em um mesmo corpo, quando uma pessoa deseja uma vida dita saudável, cercada de determinados alimentos e exercícios físicos e, por outro lado, deseja a interação com amigos e divertimento, cercados de comidas, bebidas e atividades noturnas. São questões geradoras de conflito que podem formar uma pessoa se, e quando, ela pode aproximar as diferenças.

A aproximação das diferenças vai depender de ações contrárias ao isolamento dessas questões conflitantes. Isolamos quando, por exemplo, nos apoiamos em ações nas quais: um cede e o outro domina, não se fala mais disso, o pedido de desculpas deixa tudo bem, supostamente esquecemos o assunto...

Quando a pessoa nega uma prática em detrimento da outra, instala um campo para a imaturidade própria, impedindo o diálogo/ação entre partes em si que, apesar do conflito, forma campos de práticas determinantes de um contorno positivo para a vida da própria pessoa.

As ações/diálogos que desconsideram os conflitos inerentes ao desenvolvimento humano tendem a instalação de jogos de poder. Qual a diferença entre jogo de forças e jogos de poder?

O jogo de forças, impermanente ao acompanhar o ritmo, intensidade e duração das forças, fornece condições para que uma pessoa possa acomodar, entender e operar os deslocamentos em si e fora de si. Os jogos de poder desconsideram a impermanência da dinâmica do vivo e pretendem fixar as formas que privilegiam interesses cegos. Instaura-se a presença de uma cegueira crônica e seletiva impedindo que a própria pessoa enxergue outros lados da vida, determinando uma imaturidade que desvitaliza porque rompe com a vida, em si e fora de si, ao desativar a circulação e transmissão de forças comuns ao que está vivo.

Partindo dessas reflexões, entendo que um bom lugar para desativar os jogos de poder e ativar o jogo de forças, são os ambientes familiar e o escolar. Duas importantes bases para a formação do ser humano. Assim, abro esse espaço para dialogar com questões pertinentes ao universo das interações que acontecem nesses ambientes por onde circulam as forças vivas. São forças ativadas no encontro entre pessoas e entre partes em si: criança e pais, homem e mulher, cuidador e cuidado, aluno e professor, agente e o sujeito em si.

Vou abordar as Atmosferas e os Campos nos quais um bebê se constitui de determinadas formas, apresentando as Crônicas de Bebês em Presença. Vamos entender melhor o universo sem palavras de um bebê. Um bebê que é muito sensível aos ambientes internos e externos a si mesmo, e vive, constantemente, as impermanências das ações próprias e das pessoas. O bebê, com seu corpo macio e molinho, é capaz de perceber a firmeza de um outro corpo, os fluxos de emoções, a aceleração e a lentificação dos movimentos. O corpo do bebê, inicialmente, é cúmplice passivo das intensidades em si e no outro. O bebê pode e deve aprender a gerir suas intensidades, formas que pais sensíveis podem acompanhar mais de perto.

Vou lançar, também, pequenos textos, Pílulas, desenvolvidos para estimular a reflexão sobre as possibilidades/intenções contidas no ato de brincar. São uma tentativa de gerar ambientes facilitadores para o crescimento e amadurecimento das crianças. Trata-se de acompanhar uma criança brincando. E, quando uma criança brinca, qualquer que seja a idade dela, ela está orientada para experiências que podem nutri-la de alguma forma, experiências que podem fortalecer seus modos de estar no mundo. Quero dizer que, dentro de uma mesma brincadeira, cada criança vai se encaminhar para um pedaço da experiência em brincar, um pedaço que faça sentido para ela, uma parte da qual ela possa processar e conquistar melhores condições de vida no próprio corpo.

Vou desafiar profissionais para o diálogo comigo desenvolvendo uma Série de Conversas, que são diálogos nos quais temas pertinentes ao desenvolvimento humano possam ser abordados de modo construtivo e respeitoso à realidade da coexistência de verdades distintas no mesmo ambiente.

“A Culpa é da Mãe! Onde está o Pai?”, é escrito com o pediatra Carlos Eduardo Corrêa (Cacá) e trata do modo como alguns temas dirigidos aos pais são abordados; contrariamente a ajudar, eles servem para amedrontá-los, reforçando esse mecanismo de concentração de forças em uma verdade, os jogos de poder.

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